Geralmente quem conhece
um pouco que seja sobre Elvis Presley, vai quase sempre associar ele a rebeldia
juvenil dos anos 50. Bem, esta é apenas uma face da verdade sobre o maior mito
da música, hoje gostaria de explorar um pouco mais sobre outro Elvis, o Elvis
que de certa forma, em minha opinião de fã, eternizou o Elvis Rebelde dos anos
50, estou falando do Elvis bom-moço, o Elvis que voltou em 1960 após dois anos
de exército.
Vamos aos fatos reais, primeiramente sabe-se, sem
ilusões, de que Elvis foi para o exército americano em 1958, como parte de uma
grande jogada de marketing, de seu empresário o raposão Coronel Parker, que
queria exatamente isto, construir a imagem de um Elvis patriota, o perfeito
americano, um artista que iria entreter a família e não apenas a juventude.
Para que esta mudança ocorresse, seriam necessárias medidas, medidas estas que
não viam apenas de Parker não, principalmente no que diz respeito a música que Presley
começou a produzir no seu retorno do exército. O Rock mais cru e selvagem dos
anos 50 deu espaço para um som mais dançante e mais leve, leve no sentido da
mudança de timbre das guitarras usadas a partir de março de 1960, no acréscimo
do sax a banda, além da presença de agora duas guitarras, uma rítmica mais
grave, e outra mais aguda que geralmente se ocupava dos solos. Esta experiência
com duas guitarras já havia ocorrido na sua última sessão nos anos 50 a sessão
de junho de 1958, em Nashville, aliás a Cidade da música como é conhecida
Nashville nos EUA, tem muito a ver com esta mudança também, Chet Atkins,
excelente guitarrista era um dos responsáveis pelos arranjos de muitos artistas
que gravavam em Nashville por fim dos anos 50, épica em que Elvis estava
temporariamente “aposentado”, Atkins, sempre trabalhou como auxiliar de Steve
Sholes, que era o produtor de Elvis na época, e ambos juntamente com o rei,
aproximaram o som do chamado “Nashville Sound”, do qual Atkins era um dos
mentores, que na época dominava a música feita no sul dos EUA, era um som mais
leve e dançante, com mais instrumentos e vocalização mais marcante, Elvis aliou
isto as suas raízes de R&B, e assim foi concebido todo o panorama deste
novo som.
Quando o assunto era Hollywood, Elvis seguia basicamente
a mesma receita, salvo exceções como Blue Hawaii e G.I. Blues por exemplo, que
exigiam canções com arranjos peculiares atrelados não apenas aos roteiros dos
respectivos filmes como exigiam arranjos que por vezes refletissem a cenário,
como o Hawaii, ou o tema de cada filme,
como canções com motivos militares e alemães no caso de G.I. Blues,e mesmo
nestas condições Elvis seguia basicamente a mesma receita já que em Hollywood,
ele não tinha Atkins e Sholes, cada trilha tinha seu próprio diretor musical,
embora fosse Elvis quem comandasse tudo nos Estúdios de Thorn Nogar, a Radio
Records, onde todas as trilhas deste período foram gravadas exceto Follow That
Dream que foi registrada de forma rara em Nashville.
Outra mudança no quesito música, vinha de uma questão
fisiológica Elvis contava agora com 25 anos, e uma voz que só iria ficar mais e
mais aveludada principalmente neste período de gravações entre 1960 e maio de
1963, e a curta porém significativa sessão de janeiro de 1964, período que
encerra as sessões de Nashville, uma vez que de Viva lãs Vegas em diante
Presley se dedicaria quase que exclusivamente as trilhas só voltando a cidade
da música de fato em 1966 mas este é outro assunto, já que a “crise” desta fase
começaria com a aparição dos Beatles em 1964, sendo que este também é outro
assunto interessante e merece posterior apreciação em momento apropriado.
O Elvis que voltou do exército estava diferente mais
magro, loiro novamente e com um topete gigante, esta imagem porém duraria
pouco, logo ele já estaria novamente em Hollywood e cortaria o cabelo voltaria
a tingir ele de preto, e por falar em Hollywood La também seria o foco
principal da mudança de atitude de Presley, agora seus filmes seriam quase que
exclusivamente comédias açucaradas e leves e com cenários paradisíacos
especialmente após o sucesso de Blue Hawaii em 1961, que sepultou qualquer
chance de Presley tornar-se uma ator sério, já que após dois filmes de
qualidade razoável e dramaticidade idem, “Flaming Star” e “Wild in The Country”,
as bilheterias ditaram as ordens, Presley como um ótimo empregado da indústria
do entretenimento, teria que seguir o que seus fãs da época queriam que era
filmes e músicas leves....bem isto encheu os bolsos do astro de dólares mas foi
a gênese de uma grave crise artística que só iria dar frutos por volta de 1965,
mas este também é outro assunto.
Voltemos aos fatos,
este novo Elvis, tinha muitos aspectos interessantes, sempre li na literatura
sobre o rei, críticas a este período, que na minha opinião, é incrível, o período
foi caracterizado por lançamentos de dois álbuns ano, sendo um trilha de algum
filme mais divulgado na época e outro gravado por ele em Nashville que nada
tinha de filme, o curioso é que entre 1960-62, os álbuns trilha vendiam mais
que o dobro dos não trilha mostrando a RCA e a Parker o caminho que deveria ser
seguido após 1962.
Bem, além disto, Elvis
estava em seu período mais Mauricinho de todos, especialmente após Follow That
Dream filmado em 1961 e lançado em 1962, Elvis agora usava brilhantina nos
cabelos mais curtos e bem aparados em 1963 ele começaria com o Fixador de cabelo sem brilho molhado.
O período foi marcado
também por muito sucesso, na parada de singles, grandes Hits de sua carreira
vieram do período, como “Its Now Or Never”, “Are You Lonesome Tonight”, “His
Latest Flame”, “Cant’ Help Falling in Love”, “Return To Sender” “Devil In
Desguise”.
Agora retorno ao inicio
para defender meu ponto de vista. Por que razões este novo Elvis engomadinho, e
polido ajudaria a eternizar o Elvis Rebelde de alguns anos antes?? Bem Parker
foi esperto ao ampliar o público do rei, ao deixar os adolescentes rebeldes,
que logo logo seriam pais, Elvis ampliou o público não apenas para os
adolescentes mas também para os pais destes que agora tinham um astro
comportado para os filhos idolatrarem, sendo que estes mesmos pais poderiam
agora também ver valor neste mesmo artista. As crianças também começaram a
gostar do rei, que agora fazia filmes em que elas apareciam mais, vira e mexe
Presley cantava alguma canção, para elas, e até mesmo teve co-stars infantis
nesta época, como a Su-Lin de “It happened at the world’s fair”, ou o Raoul de
“Fun In Acapulco”, ou seja aqui Elvis
começou a moldar o seu futuro que perdura até hoje, o de símbolo americano um
artista que transcendeu seu tempo, durante o seu tempo, já se perguntaram o que
aconteceria se Elvis seguisse rebelde como nos anos 50?? O que seria dele nesta
época de 1960?? Provavelmente ele viveria de revivals como Chuck Berry por
exemplo, sendo que aqui em sua primeira reinvenção, ele foi além inclusive do
rock, o novo Elvis não cantava apenas rock, ele cantava de tudo, de rock à
baladas açucaradas com uma voz de ouro, canções com pegada latina, e traduções
para o inglês de óperas italianas, é bem
verdade que esta fase teria sua crise mas nada que ele não pudesse driblar e
novamente se reinventar, aqui esta a gênese de toda a durabilidade da carreira
dele, aqui esta a primeira reinvenção de Elvis Presley, que deixou de ser um ídolo rebelde para
começar a se tornar um ídolo mais requintado e focado aqui neste período no
cinema, ajudando a eternizar sua imagem como um artista profissional e
completo, cuja carreira dura até os dias de hoje conquistando novos fãs como
este que vos fala, que aliás ama de paixão este período do eterno rei do rock!
Texto Daniel Tessari
Ótimo texto!
ResponderExcluirParabéns Daniel :)
Realmente é um período pouco reconhecido do Elvis, pois todo mundo presta atenção nos anos 50 e 70, quando o período dos anos 60 é mencionado, o pessoal só lembra dos filmes e do Comeback, eu até iria um pouco mais além, muita gente desconhece que a Suspicious Minds é de 69, pois muita gente lembra dela nos shows da década de 70. Brilhante texto Daniel.
ResponderExcluirVerdade Baratta!
ExcluirE tem tantas músicas maravilhosas e ricas que Elvis gravou nos anos 60 que muita gente desconhece. Eu particularmente, acho essa fase de Elvis é muito importante para ele e sua carreira. Pois foi nesse período que ele desabrochou sua performance vocal, seu modo de se vestir ficou mais sofisticado. E suas músicas no ano de 69, para mim, são uma das melhores de sua carreira.
Abraços querido :)
Realmente, isso mostra como Elvis estava mais focado no estúdio mais do que em qualquer filme dessa época.
ExcluirRealmente essa época foi o amadurecimento para Elvis estar no topo do mundo na década de 70.
Abraço Simone.